Engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal do Ceará (UFC), foi para Brasília em 1969, para trabalhar na Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), onde atuou por 40 anos, 30 deles como chefe do Departamento de Parques e Jardins (DPJ), até a sua aposentadoria, em março de 2009.
Francisco Ozanan Correia Coelho de Alencar morreu em 2016, aos 72 anos, vítima de um infarto fulminante.
Figura de Brasília: Ozanan Coelho.
Grande chefe.
Abriu, com dois colegas da Novacap, uma empresa especializada no plantio de gramas. “Não me aposentei com a intenção de trabalhar. Eu disse: ‘Vou ficar em casa e aproveitar o resto da minha vida.’ O primeiro e o segundo mês, achei bom demais. No terceiro, começou a me dar um tédio louco e eu já estava aprendendo a fazer bolo com a Ana Maria Braga”, contou, em entrevista ao jornal Correio Braziliense, em outubro de 2015.
Ozanan era assim, brincalhão e grande contador de causos. Adorava boas histórias, ria alto, soltava palavrões vez ou outra. Mesmo depois de tanto tempo em Brasília, nunca perdeu o sotaque nordestino. Quem lembra é o chefe da Divisão de Implementação de Áreas Verdes da Novacap, Raimundo Gomes Cordeiro, 60 anos, que trabalhou mais de três décadas com Ozanan, até ele se aposentar. “Quando ele começava a contar um causo, podia esquecer. Ia longe”, diz. “Era uma pessoa muito boa”.
Primeiro a chegar e o último a ir embora, Francisco Ozanan era dedicado e cobrava resultados dos subordinados no DPJ, que chegaram a somar duas mil pessoas. Isso lhe deu fama de nervoso entre os que não conviviam com ele. “Algumas pessoas falavam que ele era bravo. Eu não achava. Ele era firme, mas era extremamente justo e nunca era arrogante”, conta Cordeiro, que chegou à Novacap na década de 1980. “E ele tinha uma capacidade incrível de motivar a equipe. Envolvia todo mundo no projeto, foi o melhor chefe que já tive”, elogia.
Carirense Francisco Ozanan Correia Coelho de Alencar conhecido como “Jardineiro de Brasília” é homenageado neste dia 30 de setembro de 2020, com nome de praça na capital federal.
A Praça Francisco Ozanan fica na península do Lago Norte, bairro nobre da cidade. Além da filha de Ozanan, Érica Coelho, participaram da homenagem o secretário de Atendimento à Comunidade, Severino Cajazeiras, o secretário de Governo, José Humberto Pires, o administrador do Lago Norte, Marcelo Oliveira, o diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF) e Fauzi Nacfur, dentre outras personalidades.
COMENTARIOS.
ELE POR ELE
“Meu nome, por incrível que pareça, é Francisco Ozanan Correia Coelho de Alencar. Tudo isso. É coisa de cearense. Acho que no dia do registro civil, o tabelião, lá da Barbalha, estava bêbado, porque meus irmãos não têm esse nome assim. Só eu e o gêmeo comigo temos um nome comprido desse jeito. Ele também é Francisco. Foi promessa da minha mãe. Você já pensou o que é, 70 anos atrás, ter um parto duplo no interior do Ceará, em uma cidade que não tinha médico, que não tinha coisa nenhuma? A Barbalha era uma aldeia. Sou casado com uma senhora também de lá. Começamos a namorar quando eu tinha 15 anos e ela, 13. Fui estudar em Fortaleza e disse para ela: ‘Vou me casar com você, só não sei quando. Se você quiser esperar…’ Aí foram quase nove anos de enrolação… Eu me casei em 1951. Entre a enrolação de namoro e o casamento são 53 anos, 44 de casado. Como enrolei essa mulher! (risos) Tenha vergonha! Meu Deus, meus filhos já se casaram e se separaram, e nós dois aqui. (risos)”
BRASÍLIA
“Fiz agronomia na Universidade Federal do Ceará. Tinha um professor, Melquíades, da cadeira de zoologia, muito duro, reprovador, odiado pelos alunos. Ele passou um trabalho em que cada um deveria escolher falar de um animal. Entreguei o meu sobre um rato de cana da região do Cariri. Um dia, me avisaram que as notas estavam na secretaria. De longe, vi meu trabalho com um bilhetinho de nota 10. Ele me disse: ‘Sabe por que eu dei 10 pra você? Seu trabalho é absurdamente original e eu não gosto de xerox. Você quer trabalhar comigo?’ Chega gelou meu corpo todinho. Nasceu uma amizade que perdura até hoje. Terminei o curso em 12 dezembro de 1968. No dia 13, saiu o AI-5. Estava com a maior esperança de que ia ficar lá (na universidade). Mas a vida é totalmente decidida pelo imponderável. Com o AI-5 não houve colação de grau, não houve festa. O diretor chamou a gente no gabinete dele e disse para cada um rezar um pai-nosso. O AI-5 foi o endurecimento da revolução. O professor Melquíades falou assim: ‘Você quer ir para Brasília? Um diretor de um departamento de parques e jardins (Stênio de Araújo Bastos) é muito meu amigo e pediu para indicar um rapaz que quisesse. Aquilo lá é um desafio. Você vai, se gostar, fica. Se não gostar, trabalha uns dois meses e volta.’
A CHEGADA
“Meu irmão me deu o dinheiro da passagem. Vim, cheguei, peguei um táxi do aeroporto. Passei pelo Eixo e perguntei ao motorista qual era o nome daquela rua e ele disse que não era rua, era o Eixo Monumental. Então pensei: ‘Estou lascado, essa cidade é completamente diferente’. Eu me lembro perfeitamente da tarde em que fui assinar meu contrato. Ali na Esplanada dos Ministérios subia uma poeira que nunca tinha visto na minha vida. Era um barro vermelho e uns redemoinhos… Os ventos se encontravam e faziam ‘timmm’. Tinha uma chaminé vermelha que você via lá de longe. O povo chamava aquilo de Lacerdinha, em alusão a Carlos Lacerda, governador da Guanabara. O colarinho da camisa, às vezes, ficava vermelho e eu andava com um vidro de colírio para botar nos olhos porque entupia de terra, da gente que trabalhava nas obras. Aqui era que nem dr. Stênio me disse: ‘É pegar ou largar.’ O desafio era grande demais, mas eu não ia voltar não porque um dia isso aqui ia ser bom. Aí não larguei e me apaixonei por Brasília.”
PODER
“Eu me tornei chefe do Departamento de Parques e Jardins depois de trabalhar com dr. Stênio por 10 anos. Eu não queria de jeito nenhum, não tinha essa ambição de assumir a parte administrativa. Escolhi um método meu para administrar: nunca fechei a minha porta. Quem quisesse entrar podia: cachorro, gente. O máximo que pode acontecer é ouvir um não, mas nunca tratava ninguém mal e, se pudesse ajudar, ajudava. Nunca me preocupei com o poder. Sou a pessoa mais feliz do mundo com o que fiz profissionalmente. Tenho muitos defeitos e, depois que me aposentei, enxergo melhor os defeitos. Mas foi o que eu podia fazer. Nesses 40 anos, que passei na Novacap, tirei duas férias. Não é que me proibiam de tirar férias. Era tesão que eu tinha por aquilo. Uma verdadeira paixão. Não sei se é virtude ou defeito, mas é verdade. Tinha tesão, paixão e ainda tenho.”
APOSENTADORIA
“Tenho seis anos de aposentado. Abri uma empresinha que planta grama com dois colegas que trabalharam comigo em mais de 30 anos na Novacap. Não me aposentei com a intenção de trabalhar. Eu disse: ‘Vou ficar em casa e aproveitar o resto da minha vida.’ O primeiro e o segundo mês, achei bom demais; no terceiro, começou a me dar um tédio louco e eu já estava aprendendo a fazer bolo com a Ana Maria Braga. Falei: ‘Cacete, vou ficar doido.’ Disse para a mulher que não ia ficar em casa. Juntei-me com esses dois colegas e fizemos uma empresinha. Dá mais raiva do que a gente ganha de dinheiro. Fizemos uma obra que o Agnelo (ex-governador) não pagou e lascou a gente… Mas é bom que a gente se reúne, bate papo e fala das besteiras de antigamente, conta causo e movimenta a cabeça. Hoje, apesar da minha aposentadoria, ainda tenho, como minha mulher cunhou, o mesmo adultério explícito, que eu tinha com as áreas verdes de Brasília. Você acredita em um negócio desse? Passo nos cantos e vejo as coisas erradas. Não vou ligar lá e dar opinião, mas vejo esses jardins se acabando.”
“Sou muito suspeito para falar, mas eu acho que a paisagem de Brasília é absolutamente singular. Em Brasília você vai ver ipê banco, amarelo, roxo, quaresmeira, copaíba, jequitibá do cerrado, landim, pombeiro, você vai ver coisas que não existe nas outras cidades, uma coisa absolutamente só de Brasília.
Fontes:
https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/gestao-na-camara-dos-deputados/responsabilidade-social-e-ambiental/ecocamara/recursos/bosque-dos-constituintes/quem-e-quem/pioneiros-1/biografia-2013-ozanan-coelho
http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2016/05/morre-aos-72-anos-o-jardineiro-de-brasilia-francisco-ozanan.html
AGÊNCIA BRASÍLIA