BIOGRAFIA
DADOS PESSOAIS. Monsenhor Francisco Murilo de Sá Barreto nasceu em Barbalha, Ceará, no dia 31 de outubro de 1930(2020 – 90 anos). Filho de José Pácifer de Sá Barreto e Laudelina Correia de Sá Barreto. Quando ele tinha três anos de idade perdeu a mãe, e passou a ser criado pela tia, Ironina de Sá Barreto, a quem chamava de “Madrinha”, nome, aliás, como D. Ironina era carinhosamente conhecida em toda Barbalha.
ORDENAÇÃO. Viveu toda a infância na casa da Madrinha, em frente à Matriz de Santo Antônio, em Barbalha, para onde ia, todo dia, em companhia da mãe adotiva entregar as hóstias que ela fazia. Este contato certamente despertou nele a vocação para o sacerdócio. Por isso, aos 14 anos ingressou no Seminário São José, do Crato, Ceará. Depois foi transferido para o Seminário da Prainha, em Fortaleza, onde de 1952 a 1953 fez o Curso de Filosofia e de 1954 a 1957, o curso de Teologia. Recebeu sua primeira tonsura em cerimônia realizada na Capela do Palácio Episcopal do Crato, celebrada pelo bispo D. Francisco de Assis Pires. Recebeu as ordens menores com Ostiário e Leitorato em 12 de junho de 1955, oficiadas pelo bispo de Fortaleza, D. Antônio de Almeida Lustosa, na Igreja da Prainha; o Exorcistato e o Acolitato, em 8 de dezembro de 1955, oficiados por D. Francisco na Catedral Nossa Senhora da Penha em Crato; no ano seguinte inicia a obtenção de ordens maiores. O Subdiaconato lhe foi atribuído por D. Lustosa, na Igreja da Prainha, no dia 2 de dezembro de 1956; o Diaconato, em 6 de abril de 1957; e o Presbiterato, com sua Ordenação, em 15 de dezembro de 1957, em cerimônia oficiada por D. Francisco, bispo da Diocese do Crato.
Durante o tempo em que esteve à frente da Matriz de Nossa Senhora das Dores Monsenhor Murilo desenvolveu intensa atividade junto aos seus paroquianos e também à sua imensa legião de amigos romeiros. Trabalhou incansavelmente pela comunidade, desde a elite ao excluído, realizando intensa atividade pastoral, inclusive com visita domiciliar para cumprimento de missões que ora envolviam alegria, como uma missa congratulatória; ora tristeza, como socorrer com a unção dos enfermos um moribundo.
Aos romeiros dedicou especial atenção, tendo sido o continuador da obra deixada pelo Padre Cícero e também o mentor da Nação Romeira, uma extensa área geográfica espalhada por todo o Nordeste, que ele herdou do Padre Cícero e contribuiu para o seu crescimento. Aí, numa metamorfose incrível, ele se transformava no Padre-Romeiro tão conhecido dos pernambucanos, dos alagoanos, dos sergipanos, enfim, dos nativos que fazem a Nação Romeira. Ele foi com toda certeza o substituto mais perfeito do Padre Cícero, no que diz respeito ao atendimento e atenção aos romeiros, não apenas em Juazeiro do Norte, mas também em outras localidades, como Surubim, Panelas, Cachoeirinha, Delmiro Gouveia, Piranhas, Campo Alegre, Caruaru, São Caetano, São Miguel, Marechal Deodoro, dentre outras, onde esteve em missão pastoral.
Em todas as localidades aonde chegava era disputado pela multidão como uma celebridade. Todos queriam abraçá-lo, apertar-lhe a mão, bater foto ao seu lado e convidá-lo para uma visita doméstica. Sua presença superlotava qualquer igreja e fazia o êxito de qualquer evento religioso. Não há nenhuma dúvida: os romeiros o estimavam muito. E a recíproca sempre foi verdadeira, porquanto foi crescendo à medida que ele soube – tal qual o Padre Cícero – penetrar no âmago do coração do romeiro e entender-lhe as agruras e as alegrias. Monsenhor Murilo terminou por perceber que os sentimentos dos romeiros são verdadeira-mente puros, espontâneos, gestuais, impregnados de autêntica religiosidade popular. Ele compreendeu, como resultado de experiência vivida, que a manifestação religiosa dos romeiros não tem nada de fanatismo exacerbado, como se apregoou no passado. Ao lado do romeiro, fugindo da erudição inata que dominava tão bem, e usando a linguagem peculiar às massas, no que se saía igualmente bem, ele fortalecia a esperança de que Padre Cícero a despeito de tudo triunfava dentro da sua Igreja. Por isso, tornou-se um grande estudioso e defensor do Padre Cícero, sobre quem escreveu um livro e promoveu, a partir de 2003, um Tríduo de Estudos, o qual reunia em Juazeiro do Norte estudiosos para aprofundamento de pesquisas sobre o Padre Cícero. Também foi um dos maiores incentivadores dos simpósios internacionais sobre o Padre Cícero realizados pela Universidade Regional do Cariri.
Ele era extraordinariamente habilidoso na maneira de como pregar a palavra de Deus. Suas homilias eram bastante apreciadas indistintamente pelos seus paroquianos e os romeiros. Todos sentem saudades dos seus bonitos sermões.
Exerceu atividade literária escrevendo artigos para jornais e revistas e publicou os seguintes livros: Experiência de vida, De Juazeiro do Norte à Terra Santa, Testemunho, Serviço e Fidelidade, para os diáconos e Padre Cícero. Foi um dos grandes baluartes em prol da reabilitação do Padre Cícero, cujo processo continua em curso no Vaticano.
Através de programa Dimensões do cotidiano, apresentado por mais de 30 anos na Rádio Progresso, sua palavra evangelizadora ultrapassou os limites de Juazeiro do Norte e se espalhou por toda a Região.
Sua presença abrilhantava qualquer solenidade e não raras vezes terminava sendo a grande estrela toda vez que pronunciava o discurso oficial, que era sempre uma aula de oratória e sabedoria.
Seu trabalho assistencial se estendeu ao Horto e à Vila Padre Cícero, onde sua Paróquia marcava presença com obras sociais, especialmente direcionadas às crianças.
Foram iniciativas suas a editoração do Livrinho de Cantos da Romaria, do Livrinho da Saúde, a celebração da Missa da Despedida dos Romeiros na qual se presencia o bonito espetáculo com o levantar dos chapéus realizados pelos romeiros, a Procissão dos ônibus e caminhões de romeiros e o inesquecível “Viva Nossa Senhora das Dores” com que costumava terminar suas pregações.
Com a morte de Monsenhor Murilo, Juazeiro do Norte fica órfã e perde seu maior líder espiritual depois de Padre Cícero.
Redigido por Daniel Walker.