De origem humilde, começou a trabalhar desde muito cedo para ajudar seus pais nas despesas da casa e não “aperrear” seu pai com as coisas de que ele necessitava.
Foi aos 18 anos de idade, no dia 20 de outubro de 1960, que Mestre Jaime começou a trabalhar como servente, na Fábrica de Mosaicos do senhor João Gonçalves. Logo buscou aprender o ofício de como operar a prensa e com seis meses de experiência, passou à função de operador, já sabendo fabricar as peças mais complicadas.
Tendo se mostrado bastante desenvolto na fabricação dos modelos, logo conquistou a confiança do seu patrão que, no dia 24 de maio de 1963, o chamou para uma conversa para lhe comunicar que o levaria para tomar conta de uma filial que estava abrindo na cidade de Brejo Santo-CE, filial que ele ficaria responsável por montar e supervisionar, missão que o Mestre Jaime abraçou sem medo pois em suas palavras, “nunca fugiu de bicho feio”.
Em meados da década de 70, veio a novidade das fábricas de cerâmica. Com o sucesso do piso esmaltado, a fabricação de mosaicos (ladrilhos hidráulicos) caiu em declínio, até que em 1979 as fábricas do senhor João Gonçalves foram fechadas. Seu patrão, no entanto, o incumbiu de ficar com a chave da sua fábrica matriz em Barbalha-CE, para apresentar o maquinário a possíveis compradores. Das cinco prensas remanescentes, duas chegaram a ser vendidas. Com o valor das suas “contas”, Mestre Jaime comprou sua casinha e passou a viver da venda de crediário.
Foi no ano de 1983 que uma senhora o procurou para saber se seria possível ele lhe fabricar mosaicos para um reparo em sua casa e mais algumas encomendas surgiram. Mestre Jaime, no entanto, tinha receio de comunicar seu ex-patrão da procura, pois, ironicamente, não desejava voltar a trabalhar com mosaico. Com a insistência das pessoas em procurar encomendas de mosaicos, acabou comunicando o senhor João Gonçalves.
Para a surpresa do Mestre Jaime, seu ex-patrão que acabara de vender todo o prédio da sua antiga fábrica, o autorizou a ficar com as prensas e todo o ferramental que ainda não havia sido vendido, pois ele precisava desocupar o prédio para entregar ao comprador. Foi então que Mestre Jaime se apressou em vender sua casa para poder comprar um terreno e construir a atual Fábrica de Mosaicos de Barbalha, e um “vão” de chão batido onde ele viveria com muito “aperreio” nos anos iniciais da sua empreitada.
De encomenda em encomenda tanto sua Fábrica quanto a sua nova casa foram tomando forma e Mestre Jaime pôde criar seus onze filhos ao lado de sua esposa, Dona Arlete.
Hoje, completados quase 60 anos desde que colocou seus pés pela primeira vez numa fábrica de mosaicos, Seu Jaime vem mantendo viva a cultura da fabricação de ladrilhos hidráulicos, atualmente na administração, pois passou o legado para o seu filho Cícero José Rodrigues e mais recentemente para um de seus netos, João Paulo Rodrigues Figueiredo, dentre tantos outros “trabalhadores”, como Seu Jaime mesmo os chama, que aprenderam o ofício e o tem como um pai que lhes ensina através do seu exemplo, uma arte que irá permanecer viva ainda por muito tempo.
Escrito por: Thiaggo Alencar Rodrigues da Silva.
Herança.
Apesar de fazer outros serviços como pintor e servente de pedreiro, foi pelo ladrilho que Vando criou gosto e começou a trabalhar, efetivamente, em 1994, na oficina do pai, construída no quintal de sua casa. “Pra mim, não é difícil. Hoje, eu faço todas as peças. Nem todos fazem tudo. A tinta, o mosaico, o material. Não posso deixar acabar. Sempre tem uma pessoa pra levar o negócio”, explica.
O filho herdou de Jaime a “receita” secreta para a produção das tintas e da “pedra” como chama o próprio artesão. Os “ingredientes” ele revela, mas a forma de fazer mantém em sigilo. Vando continua recebendo encomendas enquanto seu pai, aposentado, se mantém longe do cimento para preservar sua saúde.
Dependendo do modelo da peça, podem ser feitas até 150 por dia. As mais complexas, apenas quatro, porque possuem muitos detalhes. Recentemente, a Fábrica de Ladrilhos de Barbalha recebeu pedidos de uma igreja em Sousa (PB), de uma casa na Lagoa Seca, em Juazeiro do Norte, e do próprio projeto do Teleférico do Caldas, com mais de 320 metros quadrados.
Reconhecimento
A casa de Jaime foi escolhida pela Fundação Casa Grande e pelo Sesc-CE para receber uns dos 16 museus orgânicos que serão instalados pelo Cariri. Dois deles já foram inaugurados em Potengi: o Museu Orgânico do Mestre Antônio Luiz, líder do reisado dos Caretas de Couro; e o Museu Orgânico do Mestre Françuli, que fabrica aviões com folhas de flandres e zinco. Até este mês de maio, o terceiro, em Juazeiro do Norte, que homenageia o Mestre Nena, líder do grupo Bacamarteiros da Paz, será entregue. No entanto, ainda não há prazo para a inauguração do Museu dos Ladrilhos.
A ideia é tornar a fábrica de mosaicos um espaço de visitação, valorizando seu cotidiano. “Já é uma coisa natural vir ao Cariri para conhecer a cultura popular”, afirma Alemberg Quindins, presidente da Fundação Casa Grande. Nestes espaços, os visitantes têm contato com o mestre da cultura, sua família e sua memória.
https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/regiao/mestre-da-cultura-mantem-viva-tradicao-dos-ladrilhos-hidraulicos-1.2095147
Escrito por Antonio Rodrigues, regiao@verdesmares.com.br
Reportagem de vídeo Toni Sousa.