Grupo de Penitentes
Grupo que ainda se utiliza de práticas medievais como autoflagelação.
Um dos grupos que chamam mais a atenção, os Penitentes, organização religiosa formada por homens simples, praticam atos religiosos medievais como o autoflagelo. São mantidos aspectos da religiosidade popular herdados da Idade Média européia, extraídos da narrativa do mestre decurião Joaquim Mulato(já falecido). O atual decurião é Severino Rocha, hoje Mestre da Cultura à nível estadual. Os rituais de penitências apareceram nos primeiros séculos da era cristã para domar os desejos da carne e as fantasias do espíritos.
‘INCELENÇA’ É A ALA FEMININA DOS PENITENTES QUE EXISTE DESDE O SÉCULO 19. FAMÍLIA SEGUE À RISCA A TRADIÇÃO, COM A AVÓ, MÃE E FILHA.
Três mulheres da mesma família, ligadas pelo sangue e pela fé levam adiante rituais religiosos que nasceram no século 19 e são chamadas de ‘incelenças’, na comunidade de Cabeceiras, em Barbalha, a 580 km de Fortaleza.
Para conhecer a história delas é preciso voltar ao passado. Tudo começou com o padre Ibiapina, no século 19, que trouxe penitentes da Europa para catequizar os índios do Cariri, Sul do Ceará. Os penitentes eram religiosos que há até pouco tempo se autoflagelavam para livrar a alma dos pecados. Com o passar do tempo, as mulheres, que antes eram limitadas a cantar em velórios, passaram a levar adiante a tradição dos penitentes na região.
Família segue a tradição
Na comunidade de Cabeceiras, avó, mãe e filha mantêm a tradição das “incelença” – ou ”excelência”, na língua culta – na ala feminina dos penitentes. Dona Francisca é a mais velha do grupo e segue à risca a tradição. Ela é incelença desde os oito anos. “Nós todas somos incelença. Assim antigamente não tinha essa história de grupo. Nos encontravamos, rezavamos juntas, mas depois é que veio esse nome”, disse.
Sua filha, Sueli Matos, de 31 anos tem a responsabilidade de liderar o grupo e entrou ainda criança, aos nove anos de idade. “Nós tínhamos mais emoção. Nós estávamos ali juntas todo o tempo. Cantando com a nossa alma, coração mesmo, com humildade e hoje é mais para mostrar a nossa cultura. Para não deixar morrer”, afirmou.
O jovem Henrili, de 12 anos, conhece bem a tradição e já é penitente. Quando crescer, ele espera passar a história da família para os filhos e netos. “Eu também quero seguir essa tradição. Quando eu tiver um filho, quero passar a tradição para ele. E quem sabe para os meus netos”, disse.
Admiração
A historiadora Celene Queiroz acompanha o trabalho delas pelo menos três décadas. “Me aprofundei nos estudos e cheguei à conclusão que elas tinham a missão delas. Do mesmo jeito que os penitentes andam com a cruz, elas andam com o anjo, que simboliza a pureza, a virgindade”, explica.
http://g1.globo.com/ceara/nosso-ceara/noticia/2012/09/tradicao-das-incelencas-e-perpetuada-por-mulheres-no-ceara.html